TAIZÉ - Uma Luz na escuridão
Quando nos dirigimos a Taizé, quer vamos acompanhados ou sozinhos, vamos sempre em busca de paz. Conhecendo alguma coisa das origens desta comunidade, é sempre encantador retornar porque a ela vamos como a uma fonte inesgotável de inspiração, não porque seja em Taizé que se encontre a fonte, mas porque é aí que se criam as condições para o encontro com essa fonte que acabamos por encontrar dentro de nós. A peregrinação anual dos alunos a Taizé, por altura do Carnaval e início da Quaresma, é vista por mim, enquanto Diretora de um Agrupamento, e enquanto cristã católica, como a possibilidade de criar oportunidade para esse encontro com a fonte.
Helena Castro, Diretora do Agrupamento
Chegamos a Taizé com o noso pequeno mundo, carregados com a nossa história, as nossas preocupações, muitas vezes com o coração apertado, triste, vazio, sem esperança. Em Taizé temos tempo para fazer vários encontros: connosco, com os outros e com Deus. As redes sociais, das amizades virtuais, deixam de estar tão presentes e podemos experimentar amizades reais, encontros significativos onde somos convidados a ser quem somos sem julgamentos, a partilhar o que trazemos de dores e alegrias e aprendemos a escutar a esperança no rosto e na voz um dos outros, e experimentamos a aceitação, a valorização, o conforto de um olhar acolhedor, de um silêncio que nos abraça e espera pacientemente pela nossa atenção. Ali, sobretudo nos tempos de oração na igreja, mas também ao longo de todo o dia, vamos sendo interpelados por um novo estilo de vida, despojados de preconceitos, convidados a acolher a realidade do diferente na língua e na cultura, do diferente que, como nós, vem em busca da mesma paz e da mesma esperança. Ali começa para muitos a abrir-se a porta de um mundo novo – a porta da fé vivida em fraternidade, numa comunidade universalista, onde o amor é a linguagem natural e o acolhimento a forma mais imediata de o pôr em prática. Porque a partilha é a palavra que está na ordem do dia, a aprendizagem na relação de uns com os outros acontece naturalmente. Aprendemos muito sobre nós e sobre os outros e sentimos e percebemos o quanto essa experiência nos enriquece. A oração em conjunto, a cooperação nas tarefas diárias da comunidade, a corresponsabilidade pelo bem comum, a organização da vida em função do bem de todos e cada um, o impulso para o crescimento pessoal na partilha e na comunhão são aspetos que definem uma reviravolta na visão do mundo que nos é inculcada pela comunicação social, pelas redes sociais, pelas notícias, pela publicidade. É por isso que é difícil para alguns compreender esta lógica de vida inteiramente nova e é por isso que esta experiência é tão importante e necessária. Ali vemos que é possível um mundo diferente e mais inclusivo. Não é apenas a utopia de uns loucos, mas o sonho tornado realidade e experimentado. Ali podemos mais facilmente ter as mãos e o coração disponíveis para acolher essa luz na escuridão que suavemente nos toca o rosto e a alma, que nos cura e acalma, que nos aponta de onde vem e para onde vai o sentido da história humana e da história de cada um de nós. E assim, regressamos à nossa terra carregados de esperança e da convicção de que o desejo humano de paz e de fraternidade não é apenas algo pessoal, mas atravessa culturas e gerações porque é a finalidade profunda a que somos chamados, o ponto no horizonte para o qual caminhamos e pelo qual agimos enquanto pessoas e enquanto comunidade.
Helena Castro, Diretora do Agrupamento